Pesquisadora resgatou a rica memória da cidade no início do século XX
Pioneiros mundiais da aviação postal têm ligações com a Ilha de Santa Catarina, com o passado da ACIF e com as bandeiras da entidade. Não estranhem, é história e em seu estado puro, trazido pela pesquisadora e escritora Mônica Cristina Corrêa, graduada em Letras e doutora em Literatura Comparada (ambas pela USP), presidente da Associação Memória da Aéropostale no Brasil – palestrante convidada da última reunião da diretoria executiva da ACIF (terça- 25). A Aéropostale foi uma companhia de aviação francesa, fundada em 1919, que estabeleceu as primeiras rotas internacionais do serviço aéreo postal. Parte do seu legado foi incorporado pela criação da Air France, em 1933.
O trabalho de Mônica Corrêa sobre a Aviação em Florianópolis exibiu dados curiosos, como a primeira aeronave avistada pelos moradores da capital catarinense, que sobrevoou a cidade em 1919 – e o primeiro pouso, em janeiro de 1925, na área da Ressacada, no sul da Ilha, de três aeronaves da Aéropostale, uma delas pilotada pelo célebre Paul Jean Vachet (1897 – 1974). E, naturalmente, as passagens do notável aviador, ilustrador e escritor francês Antoine de Saint-Exupéry (1900 – 1944), que recorreu a uma área do Campeche para aterrissar e decolar em pelo menos três oportunidades. As passagens por Floripa não foram aleatórias: os precursores da aviação de longo curso cruzavam a América do Sul a serviço da Aéropostale e do aperfeiçoamento da incipiente prática de voar.
Em 1928, em um dos retornos a Florianópolis, Vachet foi recebido por Heitor Blum (descendente de franceses e filho de Emílio Blum, fundador da ACIF) e Lucas Boiteux. Em maio daquele ano, o então governador catarinense Adolpho Konder inaugurou o aeroporto da cidade, no Campeche, evento marcado para o dia 13 de maio, numa possível homenagem à data de fundação da ACIF, 13 anos antes. Mas uma viagem de Konder protelou por alguns dias a cerimônia de abertura do primeiro aeroporto de Santa Catarina. Da estrutura implantada à época resta uma casa que abrigava os pilotos de passagem pela Ilha (inclusive Saint-Exupéry), onde também costumava morar um funcionário do aeroporto – e no local a pesquisadora tem projeto para implantar um espaço de memória.
“O aeroporto de Florianópolis é nossa pauta desde remota época e uma interessante metáfora, relacionando-nos com o futuro, quando temos a internacionalização da entidade e a globalização de Florianópolis como bandeiras”, resumiu o presidente Rodrigo Rossoni, ao final da apresentação. E encerrou recorrendo a uma frase de Saint-Exupéry: “Não é preciso prever o futuro, é preciso permiti-lo”.