Há poucos dias passados fui a uma escola situada nas proximidades de uma das praias do sul da ilha de Santa Catarina. À semelhança da maioria das escolas públicas, observei a simplicidade do lugar, condizente com o bairro que abriga tradicional comunidade de pescadores, um tanto distante do centro da ilha da fantasia que sofre com o elevado índice de imigrantes que iguais a mim, chegam a Florianópolis inebriados pelos encantos da singular beleza.
Mas o que me chamou a atenção foram os diversos cartazes espalhados pelas paredes do pátio interno, próximo da sala na qual deveria ser atendido. Vi imagens bem coloridas coladas nas paredes descascadas e quase sem pinturas. Me atentei para ler as palavras e contemplar os inúmeros desenhos. Eram de variadas formas que objetivavam homenagear os professores apaixonados pelo oficio. Homenagem pela paixão pelo próprio trabalho à vista dos alunos da anônima escola de bairro humilde.
Percebi que naquela periferia paradisíaca cuja comunidade é constituída por pessoas simples na sua maioria, a coletividade estudantil, fora chamada a expor o sentimento em relação aos seus mestres, e de maneira natural, própria da primeira infância e inocência que rege a vida dos infantes, elaboraram peças artísticas retratando os professores que, diuturnamente, enfrentando as dificuldades típicas da profissão, são reconhecidos, pelo esforço e dedicação pelos seus jovens pupilos.
E nesse quadro de inúmeros quadros rabiscados pelas crianças, pude aquilatar a importância do professor para a sociedade, seja a constituída pelos valentes pescadores das praias da ilha em transformação social, seja pelos acadêmicos dos cursos superiores instalados na mesma capital, que se preparam para assumir postos de influencia na complexidade de um universo maior.
Perplexo analisei a análise perfunctória de lavra das crianças, que no limite de seus parcos conhecimentos, revelaram saber que a docência prestada com dedicação e principalmente amor, provoca outro colorido ao pobre cenário que enfeita a maioria das escolas das periferias. O saber das crianças expostos nos rabiscos e frases desenhadas é o resultado do esforço dos anônimos professores. Palavras que refletem de forma cândida um tantinho da grandeza de amor que lhes dedicam os apaixonados professores.
Saí daquela escola feliz por saber que nas proximidades da minha casa, havia não apenas uma, como inúmeras outras tantas, escolas públicas, descuidadas e de aparências às vezes constrangedoras, como se percebe na maioria das paisagens, mas um recanto colorido pelo saber e principalmente pelo carinho. Felizmente, e apesar das dificuldades, ainda há os professores que assumem apaixonadamente o papel de educadores. Homens e mulheres simples que cruzam a cidade de ônibus, motocicletas e barcos para transmitirem aos filhos de desconhecidos o conhecimento da vida. Jovens ou não que chegam pelas manhãs, ensolaradas ou frias, molhados pelas chuvas torrenciais ou suados pelas tardes escaldantes de finais de ano e dedicam boa parte de seus dias, levando àquelas sociedades carentes, a melhor expressão do saber: Transmitem através da linguagem delicada, que é o idioma melhor falado pelos puros, o be a ba, e as simples tabuadas.
Não sei como, mas diante do meu deslumbramento, lembrei da primeira professora e numa tentativa de gratidão àquela que, há tantos e tantos anos me ensinou que o Boi bebe e baba, resolvi aproveitar a passagem desse quinze de outubro, e de forma bem modesta homenageá-la com essa prosa e na seqüência, aos colegas que superando as dificuldades de estilo, além de doutores e especialistas, continuam simples, porém, indispensáveis e importantes educadores, ajudando a construir uma verdadeira nação.
A todos que honram tão nobre função, feliz dia dos professores.
Roberto J. Pugliese foi professor de direito na PUC-SP, entre outras faculdades e é diretor de opinião da ACIF Regional Sul.