Existe na língua portuguesa uma figura de linguagem – a metonímia – com diversas possibilidades de identificação e uso. Falar da parte pelo todo é uma delas. Isso é possível quando há estreita relação, percebida facilmente por qualquer indivíduo, entre aquilo que se pretende indicar e o símbolo mais restrito escolhido. De forma bastante simples: meninos jogam bola (futebol).
Os mercados públicos devem ser como metonímias das cidades que os abrigam. Neles, os cidadãos do lugar devem reconhecer suas realidades, seus hábitos e gostos – enfim, se identificar com um espaço que é deles mesmos. Não significa, como se vê em alguns lugares que buscam “resumir” uma cidade turística, colocar lado a lado uma série de empreendimentos do tipo “encanta visitante”, sem personalidade e marcados pelo foco restrito aos que vem de outros pontos. Isso não é o melhor para a cidade – e erra quem pensa que seja o melhor para o turismo.
O viajante não quer conhecer caricaturas de cidades. Ele quer, cada vez mais, ter o que modernamente os especialistas chamam de experiência, voltar para casa com o sentimento de ter “vivido” o lugar visitado, conhecido a realidade do destino que o atraiu. Em um mercado público, isso só é possível se, antes do turista, o morador, nascido ou “adotado” pela cidade, se sente em casa.
Em Florianópolis, garantir que o mercado tenha esse perfil é essencial – e por certo trará ganhos para todos. Não é por acaso que a cidade está entre as que mais recebem novos moradores em todo o Estado. Nossas paisagens atraem milhares de visitantes, mas é o jeito de ser do cidadão local, a pureza dos manezinhos, a qualidade de vida que é marca da cidade, que conquista de vez as pessoas e transforma visitantes em moradores. Garantir que isso sobreviva e seja fortalecido no Mercado Público é fundamental e por certo vai se tornar um marco a fortalecer nossa cultura e aquilo que mais nos distingue, nosso maior patrimônio, o “espírito manezinho”.
Sander DeMira
Presidente da ACIF