A segunda economia que mais gera recursos através de impostos para a capital está comprometida devida a baixa qualidade do turismo oferecido aos seus turistas.
O turismo é a indústria limpa que toda cidade almeja, gera trabalho e renda para os seus moradores e traz dinheiro de fora, através dos turistas que frequentam seus restaurantes, comércio, meios de hospedagem e lazer. Mas esse turista, que está gastando seu dinheiro e escolheu os melhores meses do seu ano para passear, quer (1) infraestrutura e (2) qualidade de serviços – e estes esbarram na (3) falta do investimento certeiro e de (4) políticas públicas na capital.
A falta de (1) infraestrutura atinge todas as esferas, começando na BR-101 Sul por onde trafegam os dois maiores focos de turistas que visitam a capital: gaúcho e argentino. Continua na BR-282, como conhecemos “via expressa”, entra na esfera estadual onde todas as SCs, com destaque SC-401, 402 e 403, estão com seus limites ultrapassados e atinge também os bairros, com a mobilidade deixando muito a desejar. Os dois outros pontos problemáticos são a rodoviária e o aeroporto, que de longe dispensam comentários – temos um dos piores aeroportos do país e a situação lastimável da rodoviária está na mídia. Sem esquecer do Portal Turístico da Capital que se encontra na cabeceira da ponte em uma sala acanhada e com sistemas de informação insuficientes para atendimento razoável.
Além disso, a cidade sofre a perda progressiva da balneabilidade de suas praias, que são – de longe – para o turista de verão o maior atrativo da cidade. Em todos os verões falta água na cidade. A questão do Saneamento Básico hoje é discutida entre FATMA, CASAN e Ministério Público Estadual/Federal para tentar definir uma solução, embora esteja atrasada – uma ilha turística nunca deveria chegar nesta situação.
Estando longe de esgotar a questão da infraestrutura, mas já pincelando os dois principais gargalos da cidade (mobilidade e saneamento básico) podemos entrar na falta de (4) políticas públicas na capital pela segurança: problema nacional que devido à falta de locais para reclusão e código penal atrasado gera uma sensação de impunidade, levando a criminalidade a níveis alarmantes – vide questões recentes de assaltos com dinamites, incêndios de ônibus e inúmeros casos de impunidade. As secretarias de segurança públicas se defendem como podem e esbarram na falta de contingente para a demanda da sociedade.
Aproximando-se das políticas municipais, nota-se que a fiscalização desempenhada com excelência na gestão anterior através da guarda municipal, responsável por recolher naquele verão 88 mil produtos irregulares (leia-se: que não geram impostos para a capital), não foi continuada, sendo substituída por operações pontuais que não alcançaram os mesmos resultados. Fora isso, o Carnaval é outro caso não solucionado e que trará resultados negativos, assim como a morosidade da obra do centro de convenções em Canasvieiras; a falta de respeito à lei do silêncio e lentidão na resolução do problema; entre outras diversas questões.
É notável que o turismo de verão se concentra na região do Norte da llha, local onde Zonas Brancas deveriam ser implantadas nos bairros, assim como base operacional da guarda municipal na região, alargamento da praia da baía de Canasvieiras e o mais importante: a SUBPREFEITURA DO NORTE DA ILHA. Esta subprefeitura se alinhada com o conselho de entidades da região, que se encontra hoje com 29 entidades (CODENI – Conselho de Desenvolvimento do Norte da Ilha), poderia aniquilar o problema da (3) falta do investimento certeiro. Mesma política pública e moderna, depois de testada, poderia ser implementada em todas as regiões da cidade estimulando a participação coletiva da sociedade civil organizada nas soluções da cidade, refletindo diretamente nos turistas que virão à cidade.
Todo esse somatório de (1) falta de infraestrutura, (4) falta de políticas públicas e (3) falta de investimento certeiro resultam na diminuição da (2) qualidade de serviços que vemos hoje ao colocar nosso pé na areia da praia ou ao conversar com o turista, comprovando a realidade da situação.
Florianópolis recebe neste verão turistas de menor poder aquisitivo devido a baixa qualidade de serviços oferecidos e este turismo gera menos dinheiro para a cidade e para investimentos que, na verdade, são para todos que a visitam e moram na capital. Comércio e restaurantes do Norte da Ilha acusam em média reduções de vendas entre 20% e 30% em relação à temporada do último verão e são os mais atingidos, pois este público “corta” de suas despesas tudo o que não é essencial. Em resumo receberemos mais pessoas e menos dinheiro, todos perderemos juntos e Florianópolis precisa reagir. A ACIF e a sociedade civil organizada estão dispostos a participar desta mudança, todas pessoas estão dentro dela de uma forma ou de outra – mas precisamos de espaço para trabalhar.
Milton Weber Filho
Diretor Geral da Regional Canasvieiras