Em recente visita ao Brasil, a ex-presidente do Chile e atual diretora-geral da ONU Mulheres, Michelle Bachelet, defendeu a importância de uma participação mais ativa das mulheres na política, inclusive, na criação de um mecanismo que possibilite um maior número de representantes femininas no parlamento e em cargos de chefia de governo.
O debate, realizado em Brasília, com uma comissão composta pela bancada feminina do Congresso Nacional coloca em pauta a participação das mulheres nesse segmento. De acordo com Bachelet, apenas 19% dos parlamentos no mundo são composto por mulheres e 10% de chefes de governo. Partindo para nossa realidade, dos 513 deputados brasileiros, apenas 45 são mulheres e, no Senado, dos 81 parlamentares são 12 senadoras.
Na tentativa de justificar o motivo dessa pouca representatividade feminina política, voltemos o nosso olhar para a história recente da mulher na política, com a conquista ao voto, em 1932. Esse cenário pouco se altera, até o final da década de 70. A socióloga Marly Ferreira, em seu artigo “Do voto feminino à Lei das Cotas: a difícil inserção das mulheres nas democracias representativas”, afirma que somente no período de redemocratização do país e fundamentalmente com a elaboração da Nova Constituição Brasileira, com a criação de conselhos femininos, como as delegacias da mulher e a implementação da Lei de Cotas é que se configura uma pequena alteração nesse quadro.
As chamadas ações afirmativas, como a Lei de Cotas (por exemplo, a Lei 9.100/95, determinou que no mínimo 20% das vagas de cada partido ou coligação seriam preenchidas por candidaturas de mulheres) vêm para somar na luta por mais espaços em cargos de poder, mas estão muito longe de servir de instrumento para alterar a situação.
Nossa Presidenta Dilma Roussef, ao completar 64 anos, nessa última quarta (14) é hoje o símbolo de luta e resistência frente à essa realidade. Em foto inédita divulgada recentemente pela mídia no livro “A vida quer é coragem”, do jornalista Ricardo Amaral, Dilma é interrogada por militares no Rio de Janeiro, em 1970, após 22 dias em pleno regime de tortura, com sua imagem exposta aos flashes dos fotógrafos enquanto, os militares abaixam a cabeça, para não serem identificados.
Sem apologia a partidos e muito menos excluindo a participação efetiva de alguns nomes em cargos de alto escalão, me pergunto aonde estariam as “Dilmas”, “Gleisis ou personagens marcantes de nossa história, com destaque ao pioneirismo da potiguar Celina Guimarães Viana, a primeira eleitora do país…
O estereótipo de “sexo frágil” ou de que as mulheres são “vítimas indefesas e silenciosas” ainda é comumente utilizado para amenizar a desigualdade entre homens e mulheres.
Ainda somos reféns desse estereótipo? Afinal, qual é a nossa posição: aceitação ou resistência e luta? Cabe uma reflexão.
*Por Josiany Salache: Jornalista, membro da Câmara da Mulher Empresária da ACIF e Diretora de Exposição da Regional Lagoa