Os problemas de saneamento básico ocorridos no litoral nos últimos dias, principalmente em Florianópolis, expuseram Santa Catarina a um desgaste inaceitável. Ninguém ignora que a sazonalidade é problemática em todos os lugares. A ocorrência de picos de demanda por qualquer serviço pode comprometer sua qualidade em determinados momentos. Mas um verdadeiro colapso, como o que prejudicou milhares de pessoas no Norte da Ilha, não reflete apenas o excesso de demanda – ele tem razões mais profundas. E as consequências, como viram hoteleiros que perderam, em poucos dias, hóspedes conquistados com anos de trabalho, podem ser danosas ao extremo.
A Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif) tem como bandeira permanente a questão do saneamento. A retomada urgente de investimentos na área (aí incluída a oferta de água e o não menos essencial tratamento do esgoto) é uma questão vital. A cidade sofre há anos com a escassez de recursos destinados a esse serviço essencial e adoece com a falta de planejamento e fiscalização. Impossível imaginar, agora, que não tenha acendido o alerta vermelho na Prefeitura – Poder Concedente, que deve fiscalizar o sistema – e na companhia estadual de saneamento.
Por certo haverá aqueles que destacarão a inviabilidade de investir em novos sistemas que serão usados por apenas três meses. Esse é um erro. As boas práticas de administração e gestão ensinam que a oferta de infraestrutura deve preceder o crescimento de uma localidade – garantindo a base sobre a qual é construída a qualidade de vida de moradores e turistas. Infelizmente, como mostram as dezenas de placas “Impróprio para banho” espalhadas pela cidade, já perdemos essa oportunidade. Agora, se a paralisia persistir, corremos o risco de ver a falta de serviços básicos se tornar responsável pelo retrocesso de regiões importantes como o Norte da Ilha.
Uma cidade boa para o turismo é, antes de tudo, boa para os moradores. Nesse cenário, precisamos agir rápido e de forma enérgica. Não podemos esquecer que há poucas décadas localidades como as praias do Continente e a Baía Norte eram opções de banho de mar. O esgoto não tratado nos “roubou” esses tesouros. O que mais estamos dispostos a perder enquanto discutimos efeitos em vez de buscar soluções para nossos problemas?
Sander DeMira
Presidente da ACIF