Empresários sugerem prioridades aos candidatos
*Vanessa Jurgenfeld, de Florianópolis
Empresários de Florianópolis entregaram aos candidatos a prefeito da cidade um documento que expõe as mudanças que julgam necessárias para maior eficiência da administração municipal. Em um trabalho de 207 páginas, que se baseia no ranking da revista "The Economist" sobre as dez melhores prefeituras do mundo, gestões municipais no Brasil premiadas pelo Sebrae e os critérios para o Prêmio Dubai, concedido às cidades com boas práticas, os empresários sugerem desde alterações no organograma da prefeitura como também detalham obras, como construção de um teleférico, implantação de transporte marítimo, criação de uma empresa de engenharia de tráfego, e até sugerem abertura de capital da empresa municipal de lixo, a Comcap.
No documento, boa parte dos novos investimentos sugeridos seria feita em parceria com a iniciativa privada, sem que houvesse desembolso pelo município, e outras alterações mais administrativas, como um organograma mais moderno (o atual é dos anos 70) e instalação de um Conselho Municipal de Desenvolvimento da Cidade (Comcidade), poderiam ser feitos, segundo os empresários, com o atual orçamento municipal – de R$ 963 milhões neste ano.
Dentre os investimentos propostos ao novo prefeito, um dos mais chamativos é o de um teleférico ligando a porção insular de Florianópolis com a continental. Orçado em ? 250 milhões, já teria ao menos uma empresa européia interessada. Também está proposta a implantação de um sistema de ferryboat para o trajeto, a exemplo do que é usado na travessia Salvador-Itaparica.
A intenção da publicação, que recebeu o nome "PMF-2012 – Refundação Orgânica para uma cidade feliz", de acordo com Dilvo Tirloni, presidente da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif), é que ela seja "na pior das hipóteses, um bom começo" para o próximo prefeito.
A postura mais propositiva por parte da entidade nessas eleições difere das anteriores. Antes, era mais comum a Acif chamar os candidatos para ouvir suas propostas. Desta vez, os candidatos serão chamados, a partir da próxima semana, para debater os projetos do documento. "Queremos que este seja um ponto de partida para elevar o nível do debate".
Tirloni, professor de administração aposentado, afirma que é um trabalho isento e não partidarizado, sem viés liberal e que deve ser visto como um documento de gestão pública eficiente. O relatório foi feito com apoio da empresa Ação Jr., da Esag, faculdade de administração da Udesc (universidade estadual), em oito meses e partiu de um diagnóstico dos problemas.
Quando apresentou o relatório à imprensa, Tirloni fez questão de mostrar fotos que guiam algumas ações propostas, como o aproveitamento do mar feito em Dubai (Emirados Árabes Unidos), Bandol (França) e Gijón (Espanha), localidades com grandes empreendimentos turísticos marítimos. "É preciso um plano diretor do mar. Hoje, qualquer ONG com uma pessoa só se arvora a dizer que a cidade deveria ser dirigida de uma determinada forma".
A intenção de transformar a área marítima de Florianópolis, proposta hoje bastante em evidência entre os empresários da cidade, é uma questão polêmica, já que há ambientalistas e outros grupos representantes da sociedade civil que se mostram contrários a esse tipo de empreendimento por temer a exclusão social que isso poderia provocar. Para haver a possibilidade de terminais marítimos, marinas e atracadouros, os empresários pedem aprovação da lei municipal do gerenciamento costeiro.
O documento propõe ainda a criação de uma secretaria de Ciência e Tecnologia, citando como bom exemplo a cidade digital de Piraí, no Rio de Janeiro. Na segurança, afirma que o secretário de defesa do cidadão deveria ser o "xerife" a comandar as ações de forças tarefas. Na habitação, propõe ações como a desfavelização, com "remoção da favela" e construção de "conjuntos habitacionais decentes". Os empresários entendem que "há poucos espaços no interior da ilha" e por isso, "urge construir consórcios públicos com municípios da região conurbada".
Para o saneamento básico, a proposta envolve concessão para iniciativa privada e no turismo, mudança no calendário das férias escolares, de forma a não concentrar o turismo só nos meses de pausa escolar. "As férias de julho poderiam ser partilhadas em três períodos de dez dias, sempre próximas de feriadões".
(Valor Econômico, 22/08/2008)