Ela tem 29 anos e é sócia de uma empresa de advocacia desde 2006, quando se formou em Direito. O espírito empreendedor e participativo faz parte da personalidade de Liandra Nazário Nóbrega, coordenadora desde maio deste ano da ACIF Jovem, núcleo da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis criado em 1998. Ela também é vice-presidente estadual da nova gestão do CEJESC (Conselho Estadual do Jovem Empreendedor de Santa Catarina), que toma posse dia 27.
Em entrevista ao Imagem da Ilha, poucos dias após trazer o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para palestrar em Florianópolis, Liandra fala sobre a necessidade de aumentar a participação do jovem na sociedade e sobre o desejo de implantar na cidade um modelo de escola cidadã.
Jornal Imagem da Ilha: Quais os principais objetivos da ACIF Jovem?
Liandra Nazário Nóbrega: O principal é o fomento ao empreendedorismo, criar novas lideranças entre os jovens empreendedores e com isso propiciar melhores oportunidades de geração de empresas, de negócios, mas sempre com a responsabilidade social. Não é apenas gerar lucro e entregar presentes no Natal, mas deixar algo para o futuro, para a sociedade.
Quem pode fazer parte? Existe um perfil, limite de idade?
Tem que ser associado da ACIF. Não há limite de idade, apenas para ocupar cargos de diretoria, que é 35 anos. Temos a participação de pessoas que não são tão jovens assim, mas estão lá porque têm espírito jovem, empreendedor, querem fazer coisas novas, diferentes. Nenhuma das ações é restrita à participação dos integrantes da ACIF Jovem, são abertas à comunidade, à sociedade como um todo. Lógico que algumas, como no caso das capacitações, por exemplo, tem um preço diferenciado para não associados.
Quais são os principais projetos e ações desenvolvidas?
Nossa grande bandeira é o “Feirão do Imposto”, que acontece desde 2004 e este ano foi realizado em 17 de setembro em dois pontos de Florianópolis. Ele busca conscientizar a população da carga tributária. Aproveitamos para divulgar também a proposta de reforma tributária elaborada pela ACIF.
Que efeito querem surtir na população mostrando o imposto embutido em cada produto?
Não conseguiremos uma reforma tributária se não existir uma sociedade que discuta, que conheça o assunto. O primeiro objetivo é levantar a discussão. Uma pesquisa do MBE (Movimento Brasil Eficiente) revelou que 80% da população acreditam que não pagam impostos. É isenta e não paga imposto de renda, não tem casa e não paga IPTU, não tem carro e não paga IPVA e acha que não paga imposto, quando na verdade paga em tudo que está comprando. Hoje, a maior carga tributária é sobre impostos indiretos, como ICMS, que são embutidos nos preços dos produtos. Na cesta básica chega a 45%, 48%. Tentamos mostrar isso de uma forma impactante. Este ano, através do sorteio do direito de compra de um apartamento, de uma geladeira e uma TV. No apartamento foram quase R$ 65 mil de desconto, isso só de impostos federais, sem retirar outros impostos.
Além do Feirão do Imposto, que outras ações e projetos vocês realizam?
Estamos iniciando em Florianópolis um projeto de educação cidadã. Em Rio do Sul já existe uma escola modelo de formação empreendedora, em parceria com a Prefeitura. Queremos dar um toque diferente aqui, não só com empreendedorismo, mas agregando educação ambiental.
Ela funcionaria como uma escola ou como uma complementação?
Seria na própria escola, no contraturno. Um projeto em parceria com a Prefeitura de Florianópolis e com o Governo do Estado, através das secretarias de educação. Até 2014, por lei, todas as escolas públicas no Brasil terão que ser em tempo integral. O intuito da educação empreendedora não é tornar a criança uma empresária, mas uma empreendedora. Você pode ser um empreendedor dentro de uma empresa, pode ter sua autonomia, liderança de equipe.
Em que fase está o projeto?
Numa fase muito embrionária. Já temos o apoio da Secretaria Municipal de Educação e a nível estadual nos reunimos com a secretária regional da Grande Florianópolis. Estamos agregando forças e ideias para construir junto com os órgãos. Não adianta criar um projeto e colocar para o governo implantar.
No Brasil é alto o índice de fechamento prematuro de micro e pequenas empresas. Que capacitações e orientações os jovens encontram na entidade para empreender de forma segura?
Temos a mediação de um consultor, que é da ACIF, mas formado pelo Sebrae, através do projeto “Empreender”. Temos o projeto “Conhecendo grandes empresários”, onde empreendedores da região contam um pouco da sua história. Aprendemos muito e esta troca de experiências é muito interessante. Temos liberdade para perguntar, tirar dúvidas, recebemos dicas, conselhos, é um bate-papo mais informal.
A maioria dos integrantes da ACIF Jovem tem empresa própria ou toca os negócios da família?
Hoje, o perfil é de micro e pequenos empresários que estão iniciando sua empresa. Alguns na empresa da família, mas a maioria abrindo a sua.
Em ano eleitoral, vocês promovem encontros com os candidatos. Realizam também alguma atividade para esclarecer aos jovens sobre a importância do voto?
Não temos projeto para conscientizar os jovens da importância de votar de forma consciente, mas você acaba de me dar uma excelente ideia. Realizamos bate-papos com os candidatos para ouvi-los e também para levar até eles os anseios dos jovens empreendedores. No pós-eleitoral, convidamos políticos para participar de eventos da ACIF e do CEJESC. É uma forma de ter um entendimento da sociedade como um todo. Logicamente que aproveitamos a oportunidade para fazer reivindicações. Num evento com o senador Casildo Maldaner, em Chapecó, num período pré-feirão do imposto, foi levantada para ele a bandeira da carga tributária. O resultado foi um projeto de lei de sua autoria que está no Congresso Nacional para que os cupons fiscais tragam descritos os valores dos impostos dos produtos.
Os jovens de hoje não vão para as ruas com a mesma frequência e força do passado. Estão menos engajados politicamente e socialmente ou mudou a forma como se manifestam?
Acredito que tem uma redução da politização do jovem. Vejo desinteresse, mas acredito também que eles vêm utilizando outros meios, a internet, as mídias sociais.
A ACIF Jovem vem trazendo palestrantes de peso para Florianópolis, como a recente vinda do ex-presidente FHC. Qual o principal objetivo destas palestras?
Deixar a mensagem de que é preciso participar, seja na vida empreendedora, seja na vida política. A ACIF é apartidária, mas tem necessidade de envolver mais os jovens. Na palestra de Fernando Henrique Cardoso não foi tratado unicamente de política, mas de questões históricas, que são importantíssimas para o jovem ter conhecimento do que aconteceu. Se não conhece o passado, dificilmente vai ter um grande êxito no futuro. Este feedback é importante. O FHC falou que não podemos ficar sedimentados no que somos hoje, é preciso ter iniciativa, mais jovens envolvidos, mais jovens empreendedores, mais jovens políticos. Isso é muito importante para que se tenha continuidade.