Impossível falar sobre o crescimento do interesse em empreender dos brasileiros sem falar em empreendedorismo feminino.
Já são cerca de 24 milhões de mulheres empreendendo no Brasil, segundo dados do Global Entrepreneurship Monitor.
Antes da pandemia da COVID-19, esses números vinham mostrando uma tendência de crescimento. De 2017 para 2019, o número de mulheres empreendedoras cresceu de 38% para 45%, segundo relatório do Sebrae. E o Brasil já tem a 7ª maior proporção de mulheres entre os empreendedores iniciais, ou seja, empresas com até 3,5 anos de existência.
Empreender não é fácil para ninguém, principalmente em momentos de crise. Mas para as mulheres, infelizmente, os desafios dobram.
Se antes as mulheres já sofriam com a desigualdade de gênero, com os desafios da crise isso não seria diferente. Os obstáculos criados pela pandemia vieram para expor ainda mais questões de desigualdade de gênero dentro do meio empresarial.
Segundo levantamento do Sebrae, com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a crise causada pela COVID-19 reduziu em 1,3 milhão de mulheres empreendedoras.
Entender esse cenário é compreender as necessidades e dificuldades que o empreendedorismo feminino encontra até hoje e cobrar mais iniciativas de fomento às lideranças femininas, criar mais oportunidades para mulheres em todos os setores do mercado e provar que lugar de mulher é também no empreendedorismo.
Por que as mulheres empreendem?
Segundo o Global Entrepreneurship Monitor, 44% das empresárias abriram o próprio negócio por necessidade ou escassez de emprego, enquanto 32% dos homens que começaram a empreender pela mesma motivação.
Uma das explicações de mulheres entrarem no empreendedorismo é justamente a desigualdade de gênero dentro das empresas.
Apesar da leve queda da desigualdade salarial nos últimos anos, mulheres ainda ganham menos que homens no Brasil. 20,5% menos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) feita em março de 2021.
Outro grande motivo é o desemprego, principalmente depois da pandemia. A Pnad Contínua também aponta que a taxa de desemprego entre as mulheres brasileiras é 37,8% superior à taxa de desocupação dos homens.
Há ainda o impacto do tempo em que é gasto com afazeres domésticos. Outro indicador do IBGE, o impacto da renda nas atividades domésticas entre mulheres que têm os menores rendimentos aponta que além de ganharem menos, elas ainda têm de dispor de mais de 24 horas semanais em atividades voltadas à casa.
Motivos para termos mais mulheres empresárias
Sabemos que muitos desses problemas são estruturais, pois tratam-se de questões que envolvem anos de preconceito e toda uma sociedade agindo da mesma maneira. Ou seja, não irão se resolver de um dia para o outro.
Os números já estiveram mais longe de se igualarem, mas ainda é preciso buscar melhorar esse cenário. E motivos não faltam para incentivar as mulheres a empreender.
Se olharmos para o estado de Santa Catarina, por outro lado, vemos um cenário otimista. A vontade de empreender entre as mulheres surge de forma mais espontânea. 74% das mulheres empreendem motivadas pela oportunidade, enquanto 26% por necessidade, segundo o Sebrae/SC.
O empreendedorismo feminino vem como uma maneira de superar dificuldades tanto das mulheres quanto da sociedade como um todo, impactando ainda na economia. Mulheres empreendendo promovem:
- Melhora dos índices de desemprego
- Aumento do PIB (Produto Interno Bruto)
- Empoderamento feminino
- Mais autonomia e independência financeira, o que também ajuda a acabar com a violência doméstica
- Mais tempo investido na família, o que pode ajudar muito no sucesso de uma empresa familiar, por exemplo
- A diversidade nas lideranças das empresas abre novos olhares sobre os desafios e inova o mercado
Vencendo os obstáculos
Já sabemos que não dá para falar de mulheres no empreendedorismo sem considerar todo um histórico de preconceitos, desafios e luta.
Mas por que isso acontece? E como driblar esses obstáculos? Se você é uma mulher empreendedora e quer iniciar essa jornada, continue acompanhando este artigo.
Empreender é ser desafiado a todo o tempo. E é ainda mais árduo para mulheres empreendedoras justamente por conta da discriminação de gênero.
Segundo dados do Sebrae, mulheres têm a menor taxa de inadimplência e, ainda assim, menos acesso a crédito bancário. Elas também lucram até 22% menos que os homens, mesmo sendo, muitas vezes, mais qualificadas.
Um motivo para essa desvalorização está em não saber precificar o próprio trabalho. O que é um problema de homens e mulheres (89% dos empreendedores brasileiros não sabem cobrar, segundo pesquisa da Preço Certo), mas as mulheres sentem ainda mais dificuldades neste quesito.
Essa dificuldade pode estar diretamente ligada a questões de autoestima. Mulheres sabem que precisam se esforçar em dobro, por isso se cobram mais e caem mais na chamada “síndrome do impostor” (que veremos mais adiante neste artigo).
Confira abaixo, algumas dicas essenciais para uma mulher iniciar a trajetória empreendedora, preparando-se, confiando nas próprias capacidades e desenvolvendo relacionamento no mundo dos negócios.
9 coisas que toda mulher empreendedora precisa saber:
1. Tenha bem definido o que é sucesso
Uma empresa de sucesso é uma empresa que passou por um projeto claro e bem definido. Tenha um plano de negócios detalhado e bem pensado.
Estude bem o produto ou serviço que irá vender, mas também pesquisa e busque treinamento em administração, finanças, marketing, gestão do tempo.
Tenha metas e trabalhe para que elas estejam sempre bem definidas, tenha em mente tudo o que você busca, a concorrência, referências em quem se espelha e onde quer chegar.
2. Tenha uma MEI
Segundo a PNAD, mais de 2/3 das empresárias trabalham sem CNPJ. A formalidade é fundamental para quem quer emitir notas fiscais, evitar problemas com fiscalização, conseguir boas linhas de crédito e ter acesso a benefícios sociais como o INSS.
Dessa forma, o segundo passo é criar uma MEI. Hoje, a facilidade de criação de uma empresa e formalização como Microempreendedor Individual, se dá através de alguns cliques. O processo é todo feito de forma online e gratuita pelo site do Portal do Empreendedor.
3. Construa uma equipe forte e de confiança
Empreender também demanda espírito de liderança e bons relacionamentos. Construa uma equipe de confiança e seu negócio irá prosperar com ainda mais força.
O bom gerenciamento de equipes é uma das competências mais importantes da pessoa empreendedora. Trabalhe sempre com reuniões de alinhamento, feedbacks construtivos, boa comunicação e reconhecimento e garanta uma equipe unida e focada.
Uma equipe qualificada, capacitada e proativa é um dos maiores recursos que sua empresa terá. Ofereça treinamento aos colaboradores sobre o produto ou serviço e sobre operacionalização das automações nos processos de trabalho.
4. Organize suas finanças
É fundamental que, para administrar os lucros de uma empresa, se tenha uma boa noção de finanças. Quando se tem uma empresa é preciso ter bem separadas as conta da empresa e a pessoal. Mesmo movimentando pouco dinheiro, o controle do que entra e do que sai precisa existir.
Busque cursos e videoaulas para questões mais técnicas e operacionais para aprender a usar diferentes planilhas e conhecer mais sobre organização de fluxos de caixa e investimentos.
5. Tenha um plano de negócio
Às vezes o desejo de empreender existe, mas ainda não está claro qual o ramo de atuação ideal. Busque áreas com a qual se identifique, observe suas habilidades, encontre as qualidades que as pessoas admiram em você e comece a partir daquilo que você gosta e se sente bem.
Comece encontrando a área a qual você mais se identifica e explore as oportunidades. Com uma ideia pronta e definida, elabore um plano de negócios. Ele vai ser essencial para planejar a sua empresa, estudar com detalhes o produto ou serviço que vai oferecer e ainda criar um plano de marketing para divulgação do seu negócio.
6. Administre bem o seu tempo
Analise sua rotina e planeje como ela ficará quando tiver uma empresa para administrar. Considere aquilo que você tem hoje e é indispensável para você como o tempo com a família ou a faculdade e coloque na agenda para ter controle das atividades durante os dias.
Empreender exige um tempo dedicado. Por isso, planeje-se bem e reserve uma parte da rotina para as atividades empreendedoras. Coloque tudo na agenda, anote as prioridades e administre bem seu tempo.
7. Arrisque-se
O perfil de uma pessoa empreendedora é naturalmente ousado. Começar um negócio exige planejamento e organização, mas também é preciso arriscar-se um pouco.
Cuide para que o planejamento não tome todo o tempo dedicado ao empreendedorismo. Em excesso, ele tende a levar empreendedoras à autossabotagem que, de tanto tentarem prever os obstáculos e possíveis erros, acabam procrastinando e nunca começando de fato a jornada.
Ninguém começa acertando tudo sempre. Portanto, se dê o direito de aprender e descobrir maneiras de melhorar. Afinal, errar faz parte desse processo.
8. Confie nas suas entregas
A autoconfiança é fundamental para o começo bem sucedido do negócio. É necessário coragem, ousadia e confiança em si mesma para começar.
Planeje bem, considere todos os aspectos e campos que administrar uma empresa envolve, pesquise o mercado e analise os possíveis riscos. Conforme entramos mais no assunto, ficamos mais confiantes.
Portanto, reconheça seus aprendizados e conquistas e tome cuidado para não desenvolver a síndrome do impostor e acabar deixando de enxergar suas qualidades.
A síndrome do impostor não é uma patologia, mas um conjunto de sintomas psicológicos e foi identificado em 1978 pelas psicólogas Suzanne Imes e Pauline Clance.
O distúrbio faz com que uma pessoa se sinta menos qualificada do que deveria para ocupar determinada posição, trazendo dúvidas sobre as próprias capacidades e se fazendo-a se enxergar como uma fraude.
Se essa sensação atrapalhar sua autoconfiança, não hesite em buscar ajuda de um psicólogo. Estar bem é essencial para o sucesso do negócio.
9. Desenvolva um bom networking
Um dos pontos mais fortes do empreendedorismo feminino está no networking entre empresárias. A criação de conexão e relacionamento entre mulheres empreendedoras fortalece a empatia e enfatiza a sororidade.
Ouvir outras mulheres é identificar, reconhecer e compartilhar das mesmas dores, enxergar diferentes potências e descobrir referências e exemplos de lideranças femininas para espelhar-se.
Contornando o machismo no mundo do empreendedorismo
Se tem algo que diariamente alimenta a insegurança da mulher empreendedora são os comentários preconceituosos e sem fundamento. Só você sabe o quanto batalhou e qual o peso de cada responsabilidade. Uma dica de ouro é não deixar que comentários como esses diminuam a força dos seus sonhos.
Questione sempre que ouvir um desses preconceitos “disfarçados” de preocupação e tenha uma resposta pronta para quando elas vierem:
“Vai conseguir conciliar família?”
Se essa pergunta não é feita ao homem que tem família e inicia um projeto empreendedor, por que ela deveria ser feita para a mulher?
Cuidar da família não é uma função apenas da mulher e se a decisão de empreender já foi tomada, essa questão já foi considerada e não deve ser explicada para quem não faz parte da família.
“Tem certeza que vai fazer isso?”
Não deixe que quem não faz parte ou que não está minimamente por dentro dos seus planos lhe questione a maturidade das suas decisões.
Empreender é aprender todo dia. Ninguém começa sabendo tudo o que precisa para começar um negócio. Estudo, pesquisa e planejamento são sim muito necessários, mas quem deve decidir se precisa estudar mais para começar um projeto, é você.
Derrube esses estereótipos e mostre que está, sim, preparada para a jornada de empreender.
“De quem é a empresa?”
Não tenha medo de falar em alto e bom tom que você é a dona do negócio. Claro que uma mulher empresária pode receber ajuda de um homem, seja o marido, o pai ou irmão. Aceitar ajuda não é uma fraqueza, principalmente quando se está no início do caminho.
Mas assumir as próprias conquistas é também importante. É por trás de uma empresa bem sucedida que existe uma mulher empresária.
O futuro é feminino
Quando comparado a 50 anos atrás, olhamos com otimismo para o empreendedorismo feminino de hoje. Foram muitas conquistas desde lá, muitas barreiras rompidas e cargos importantes ocupados. O aumento nos cargos de gerência em grandes empresas e a participação política são exemplos disso.
E é por enxergarmos o quanto mudou que sabemos que podemos fazer mais. Ainda há muito para melhorar e a luta pela igualdade de gênero deve se fazer presente em todos os campos sociais. E o empreendedorismo feminino vem justamente para abrir este espaço no mercado de trabalho.
Por fim, espelhe-se em mulheres. Uma forma de potencializar a crescente conquista das mulheres no mundo dos negócios é reconhecer mulheres empreendedoras. Sejam grandes mulheres de sucesso que já estão na estrada do empreendedorismo há mais tempo, seja em mulheres empreendedoras do seu círculo social.
E empresárias de sucesso não faltam. Confira 3 empreendedoras brasileiras de sucesso para levar de exemplo durante a sua jornada:
- Sônia Hess, ex-presidente da Dudalina – Inspirada pela mãe, de quem herdou o espírito empreendedor, a catarinense da pequena cidade de Luiz Alves, Sônia, assumiu a presidência da camisaria dos pais transformando-a na maior exportadora de camisas do país.
- Cristina Junqueira, Cofundadora do Nubank – o maior banco digital do mundo tem uma mulher na liderança. Sem medo de arriscar, Cristina entrou na área de serviços financeiros com objetivos claros de gerar impacto na vida dos consumidores. O resultado foi a liderança em uma das startups mais valiosas do mundo, de acordo com a análise da CB Insights.
- Luiza Helena Trajano, fundadora do Magazine Luiza – Se hoje o Magalu é um dos grandes nomes do varejo nacional, é graças a uma mulher. Através da implementação de um novo sistema de gestão e da visão de valorização de pessoas, Luiza colocou a empresa dos tios como uma das maiores empresas do país.
Conheça o núcleo ACIF Mulher
A ACIF valoriza muito a potência que é a mulher empreendedora. Tanto que, um dos núcleos empresariais que mais cresce é o ACIF Mulher. Com encontros periódicos, eventos de capacitação e networking, o núcleo já tem mais de 20 anos de atuação, incentivo e valorização da mulher empreendedora da Grande Florianópolis.
Para conhecer mais sobre as atividades, capacitações, fazer parte ou participar de um encontro, entre em contato com a consultora através da página do núcleo.