O Diretor Adjunto de Opinião da ACIF Regional Sul, Roberto J. Pugliese em seu texto “População tradicional”, retrata o cotidiano do ilhéu com suas crendices, folclores, festas típicas, costumes e arquiteturas que são encontradas no refúgio da Costa da Lagoa. Lugar com mistérios e bela natureza, além de muita história.
População tradicional
A Costa da Lagoa, no interior da ilha de Santa Catarina, trata-se do espaço que concentra, talvez o maior acervo cultural da Capital catarinense. Semelhante a todo território onde habita população tradicional, lá é encontrado com facilidade os costumes e os hábitos que os primeiros habitantes da ilha trouxeram e implantaram às margens da Lagoa da Conceição. São cinco ou mais gerações de história e peculiaridades dos verdadeiros e mais autênticos manés que sobrevivem de modo distinto às mudanças radicais que a cidade vem sofrendo, desde que foi descoberta por suas belezas, a partir de meados do século passado.
São inúmeras as construções que constituem o bucólico pedaço da história da ilha. Algumas abandonadas há décadas estão em ruínas. Muitas foram erguidas há mais de cem anos. Mas é inegável que boa parte se encontra preservada e habitadas pelos legítimos descendentes dos primeiros ilhéus.
Naquele espaço junto a orla lagunar, existem moendas de farinhas. As cantigas e danças ainda são praticadas contribuindo para o folclore vivo da cidade. A farinhada, a festa do Divino Espírito Santo, a procissão marítima e outras manifestações da sociedade local, são praticadas e ajudam sobremaneira ao entretenimento dos ilhéus e dos turistas que por lá aparecem.
Crendices e expressões de religiosidade, acompanhadas do misticismo próprio dos tradicionais descendentes dos primeiros açorianos que por ali se instalaram, são contadas pelos manezinhos de agora e no boca a boca, transmitidos para seus filhos. Os visitantes se encantam pela beleza suis generis, pela peculiar locomoção em barcos através da lagoa, enriquecendo o passeio e a visita, mas principalmente pelas expressões populares que tornam cultura local a mais autentica da ilha.
As crendices são tantas e envolventes que há aqueles que já viram, em certas noites escuras, voando nas imediações, bruxas narigudas penduradas em vassouras. Outros se depararam com sacis… E leros leros outros intermináveis…
Aparentados entre si, as inúmeras comunidades quase isoladas, espremidas entre a orla e a serra de Ratones são conscientes da responsabilidade que se lhes impõe a sociedade, para que mantenham a Costa preservada, indelével às mudanças dos tempos de hoje, mantendo-a no todo, um reduto abrigado do caos, diferenciando-a pela plenitude de segurança, paz e muitas histórias.
Nesse contexto mágico é chegado o tempo de se descobrir e explorar verdadeiramente a Costa da Lagoa, de forma a permitir que o cenário impar sirva de motivação àqueles que chegam à cidade, provocando mais outra surpresa e deslumbramento no rol de tantas belezas que confundem os menos avisados. A implantação planejada num manejo equilibrado é, já sem tempo, indispensável para que o manezinho da Costa se integre na cadeia produtiva organizada da ilha de Santa Catarina.
Vale refletir.
Roberto J. Pugliese
Diretor adjunto – Opinião
Acif – Sul